CANTANDO (E VIVENDO) SOBRE DUAS RODAS

textos LU ZUÊ
fotos MARCO CEZAR

Mauro Mamute viaja livremente, em cima de uma motocicleta Harley Davidson, levando o projeto “Motor Plug – Estrada e Rock’n’roll para todos os lugares onde puder cantar

“Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!”. A frase da escritora Cecília Meireles, do livro Romanceiro da Inconfidência, ajuda a contar a história de Mauro Mamute em suas viagens pelo Brasil e pela América do Sul.

Aos 52 anos, Mamute une suas duas paixões – motocicletas e rock’n’roll – em apresentações bastante singulares: ele toca violão e canta literalmente sobre sua Harley-Davidson. Qualquer lugar é lugar para suas performances, que tanto podem acontecer em praças públicas quanto em locais bastante particulares, como asilos, hospitais, creches, o Mercado Público de Floripa (onde ele conversou com a Mural!), sempre transmitindo sua mensagem sobre liberdade. “As pessoas ainda não descobriram isso, mas a gente está no mundo para evoluir. A gente não veio aqui no mundo só para acordar, trabalhar, pagar conta… e o mundo está tão caótico… por isso, eu digo para não se apegar a nada, porque se você se apega, você sofre. Não falo para ninguém sair por aí andando de moto, mas sim para que as pessoas façam o que têm vontade e que ainda não realizaram”, comenta o músico motociclista (ou motociclista músico?) com uma simplicidade encantadora.

Da Ilha de Marajó para a Ilha de Santa Catarina

Nascido na Ilha de Marajó, no Pará, desde criança se encantou com as duas rodas. Primeiro, teve uma bicicleta. Aos 11 anos, um grave acidente, porém, quase encerrou sua trajetória: ao apostar corrida com um Fusca, Mamute perdeu o controle de sua bicicleta e bateu num poste.

]Passou uma semana em coma e, após se recuperar, repetiu o feito – então, com sucesso. “Eu não era uma criança muito fácil. Me encantei pelas motocicletas e pelo rock’n’roll ainda na infância, principalmente depois de ouvir o som das guitarras de Jimmy Hendrix e Jimmy Page (da banda Led Zeppelin). Saí de casa aos 16 anos e tive de provar para minha família que poderia viver dos meus sonhos”, revela.

A carreira musical começou há mais de 35 anos, mas nos últimos seis tem viajado pelo País numprojeto que está perto de se tornar livro (Vida longa e rock’n’roll) e uma série de documentários (Motor Plug – Estrada e Rock’n’roll).

Mamute explica que faz o registro dos acontecimentos de cada dia, as apresentações musicais, os encontros com desconhecidos que acabam se tornando amigos. Aqui em Floripa, acabou conhecendo o “embaixador” da Harley-Davidson, Benetton (matéria na página 86), que se transformou em amigo e personagem de suas histórias de vida. O que os aproximou – é claro – foi a paixão por motos e por rock. “Conhecia o Benetton de nome – quem não conhece! –, mas foi de forma casual que nos encontramos, conversamos e ficamos sintonizados. O cara é show!”, conta. “O livro que estou escrevendo é como um diário; e o documentário é baseado no livro. Eu mesmo gravo e edito o material. Vai ser uma produção em vários volumes e só vai terminar quando eu morrer”, explica. Morando em Florianópolis há cinco anos e meio, Mamute conta que veio atraído pelas baixas temperaturas e por mais qualidade devida. “Eu adoro frio, talvez porque vim de um lugar muito quente. Quis ter contato com as quatro estações definidas. E essa região aqui de Santa Catarina tem lugares fantásticos”. A vida de viajante ainda inclui uma temporada de três anos na Europa, onde morou em Portugal, Suíça, Espanha e França, durante a década de 1990. Na América do Sul, já visitou a Argentina e o Uruguai, tendo planos de conhecer o Chile na sequência. “Penso que não adianta conhecer o mundo todo sem conhecer o lugar que a gente vive. Então, faço uma coisa de cada vez.”

Perdas na pandemia e uma nova fase

Como não poderia deixar de ser, a pandemia da Covid-19 afetou diretamente a vida de Mauro Mamute. E não só pelo fato de seu segmento de atuação ter sido um dos mais afetados quanto à produção e, como consequência, economicamente. Ao longo da pandemia, foram mais de 30 amigos muito próximos que perderam a vida por causa do coronavírus. Para quem já viajou tanto, o atual momento ganhou um sentido especial. “É uma nova fase. Diferente. Essa viagem que eu estou fazendo está me trazendo grandes surpresas, como conhecer pessoas, conversar sobre a vida e incentivar os outros a realizar os sonhos. Dizem que a Harley-Davidson é um estilo de vida. E eu me identifiquei com isso: viver de modo meio selvagem, mas um selvagem domesticado, porque eu gosto de conforto.”

A atual companheira de duas rodas é uma entre as várias do modelo “custom” que já teve, mas a primeira da marca Harley-Davidson – “a Baby Twu é um sonho realizado” – e viaja com Mamute desde 2014, servindo ora como meio de transporte, ora como palco das apresentações e muitas vezes de casa. Sim… Mamute literalmente “acampa” usando a motocicleta como base.

Assim, pode se acomodar em qualquer lugar. “Eu já tive outras motos antes, mas também não me apego a elas. Porque elas fazem parte de mim enquanto estão comigo. Eu já nasci livre sem ter uma motocicleta”, completa.

Como no Romanceiro da Inconfidência, a liberdade de Mauro Mamute não pode ser explicada, mas sentida – e não há ninguém que não a entenda. “Eu fiquei mal pra caramba com tudo o que aconteceu [as mortes dos amigos].

O baixista e o baterista que tocavam comigo também faleceram. Então, eu toco como uma homenagem a eles também. Sempre representando a liberdade. Eu tive uma nova chance na vida e quero aproveitar. Quero viver mais 53 anos fazendo o que eu ainda não fiz”, destaca.

Contatos de Mauro Mamute para apoio e patrocínio:
mauromamute@gmail.com
Fone (48) 99660-9772

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