Skate RTMF – Old School

texto  LUIS FORMIGA
fotos  MARCO CEZAR / LUIS FORMIGA / RAFA CENSI / IRAPUÃ PORTO

O sucesso atual do skate – principalmente como esporte olímpico – está diretamente relacionado com Florianópolis…

…e com a galera ‘das antigas’ que escolheu a Ilha de Santa Catarina para morar, se casar, constituir família, ter filhos e, principalmente, andar de skate.

Entre tantas histórias, relembramos que o primeiro Campeonato Brasileiro de skate em pista foi aqui, mais especificamente no Clube 12 de Agosto, em Jurerê. Era o ano de 1978.

A modalidade evoluiu e em 2020 entrou nas Olimpíadas, com Pedro Barros conquistando de cara para o Brasil uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Tokio (além de outras duas, também de prata na modalidade street, conquistadas por Rayssa Leal e Kelvin Hoefler).

Mais para frente vamos ver onde essa história se encaixa com o momento atual, com amigos se reunindo para trocar conhecimentos, conversar, curtir amizades verdadeiras, tomar cerveja, fazer churrasco e andar de skate.

Sem dúvida, esse tom de confraria é modelo de estilo de vida! Nos dias de hoje, muita gente sente falta de alegria e de uma forma de se divertir com amigos, mas aqui na Ilha a galera dá um banho nesse quesito. Um life style que é a nossa cara!

Esse formato de uma turma coesa que se adora e que curte junto até acaba sendo estímulo para que em outros lugares aconteça da mesma forma. Os Oldschools de Floripa são skatistas adultos – e alguns mais ‘coroas’ – vários deles empresários, trabalhadores, pais de família com mais de 35 anos de idade e muito amor ao skate.

Terça-feira, dia de missa

O respeito por essa cena atual do skate em Florianópolis é tão grande que todos sentimos algo maior em nos reunir em lugares considerados sagrados, seja em pista encravada sob árvores fantásticas e beleza natural exuberante na Cova Funda, ou na Pousada Hi Adventure, um dos lugares mais emblemáticos e importantes do skate mundial, que fica no bairro Rio Tavares.

Estar com amigos, respirando fundo com o batimento cardíaco elevado e cada um se superando ou estimulando os amigos a andarem de skate e acertar as manobras, nos dá a sensação de felicidade e bem-estar, como se estivéssemos indo para um culto. Nós brincamos e até comparamos com ir à missa!

Internacionalmente, existe um conceito Blue Zone, que define longevidade e bem-estar.

Um dos importantes fatores para se amadurecer bem, saudável e feliz é ter amigos e compartilhar com eles coisas boas e acelerar os batimentos cardíacos nas práticas esportivas, sempre curtindo e se divertindo.

Essa turma de skatistas veteranos é exatamente isso: esporte, parceria e diversão.

RTMF: Rio Tavares Mother Fucker e os três pioneiros

Pode parecer estranho, mas o nome de um bairro associado a um palavrão faz desse lugar uma referência internacional. ‘Mother Fucker’, na verdade, é um superlativo… tipo, ‘Rio Tavares é sensacional, incrível, top demais’.

Essa sigla – RTMF – hoje é conhecida no mundo todo do skate, e surgiu quando um gringo conheceu essa “vibe” e bradou: “Rio Tavares Mother Fucker!”.

Dali pra frente, RTMF virou o nome dessa galera, que só se fortaleceu.

Se antes o sonho dos brasileiros era ir para o exterior – para a Califórnia, principalmente -, hoje os estrangeiros é que querem vir para cá, curtir as pistas, a proximidade com gente bacana e bonita, com a praias, ondas e com o skate de alta performance.

Três personagens centrais iniciaram tudo isso. Em um primeiro momento, Leo Kaquinho de SP, André Barros do DF e Rafael Bandarra, do RS.

Ligados pela busca de viver bem, esses três amigos saíram de suas cidades e escolheram Florianópolis para também curtir a proximidade com as ondas do mar.

Leo passou a energia do skate para os amigos em uma época em que o esporte estava muito mais relacionado com a cena urbana, com a carência de pistas e com o sucesso da modalidade street.

Essa tendência foi muito importante. Ao meu ver, foi o resgate da essência original do skate, recolocando-o na frequência da areia de praia, do sal e do surf, como era no passado, nos anos 1960/1970, bem no início do esporte.                

Os três amigos começaram a se organizar: primeiro uma minirrampa na casa do André Barros; depois, Rafa Bandarra compra um terreno onde hoje é a pousada Hi Adventure, e antes da casa, ele construiu a 1ª versão do bowl, que permanece até hoje.

Nasce Pedro Barros, depois Vi Kaquinho e o skate se instala no Rio Tavares com muita mão na massa e nos próprios bolsos, sempre prezando a amizade e o ambiente familiar para curtir a possibilidade de andar em uma pista de skate como se estivesse surfando uma onda sem fim.

Leo Kakinho, o Oscar Niemeyer do skate

Leo Kakinho

Se hoje somos top no mundo do skate em pistas – como Bowls, Half Pipe, etc. -, sem dúvidas foi com a força das cabeças pensantes dessa turma, os RTMFs. Lembrando: se hoje o skate está em alta e existem pistas por t odos os lados, em 1997 não era assim.

Mais gente comprometida com o esporte jogava toda sua energia para ver o skate se fortalecer.

Edu, da Drop Dead, e o irmão Dranho, também se juntaram e fizeram das tripas coração para o esporte crescer, incentivando a prática e fazendo de tudo pro skate acontecer, organizando eventos, construindo pistas e buscando empresas que ajudaram o esporte naquele novo momento.

A Turma do RTMF investia pesado para não depender de ninguém. Naturalmente, os filhos, Pedro e Vi atraíram outros garotos. Uma nova geração de outros estados também “colava na área” para andar e depois competir nos eventos no tradicional Bowl da Hi Adventure.

Floripa voltou a ser referência e os resultados internacionais novamente surpreenderam, principalmente com as performances de Pedro Barros. E certamente, um dos motivos para tudo isso acontecer foi a construção dessas pistas pelos amigos.

Um dos grandes responsáveis por esse momento especial do skate foi o designer de pistas que começou a concretizar mais ideias: Leo Kakinho dá continuidade a rabiscos técnicos, às vezes contando com sugestões de amigos skatistas. André Barros, por sua vez, criou uma fábrica de copings – a borda das pistas -, um detalhe importantíssimo para realmente se construir uma pista de qualidade.

A troca de experiências e a oportunidade de construir uma sequência de pistas com comprometimento com a busca pela perfeição deram know-how para esse skatista profissional se tornar um grande projetista de pistas como a Hi Adventure, o Bowlzão do RTMF, a pista do Abrão e a mais recente pista skatepark style, no Centro de Treinamento do Pedro Barros.

Sem dúvida o nível das pistas de Floripa deu oportunidade para que os skatistas dessa geração se tornassem estrelas de primeira grandeza na modalidade, inclusive medalhistas olímpicos.

Old is cool !!!

No século passado, o skate ainda era associado especialmente aos jovens, mas do ano 2000 para cá, novos adeptos e categorias com skatistas mais velhos vieram surgindo.

A galera com mais idade também foi sendo atraída por esse estilo de vida que os RTMFs fizeram acontecer, e de forma natural surgiu o grupo Hi Adventure Old Schools, skatistas com mais de 35 anos… alguns ainda mais velhos, que passam dos 60 anos (como eu, por exemplo!).

São empresários, professores, advogados, profissionais de diversas áreas, e hoje competentes skatistas que se reúnem para andar e curtir bons momentos entre amigos.

Uma frase resume bem esse conceito: “Nunca é tarde para um grind..” (Grind, para quem não sabe, é uma manobra básica do skate).

Muitas vezes esses amigos driblam contusões, uns puxam mais os limites e se jogam mais nas manobras, mas de uma forma ou de outra, a galera se mantém unida e sempre com um número elevado de skatistas ativos nas sessões ‘old schools’. E é um grande prazer estar presente, de preferência andando de skate junto com esses amigos.

Hoje essa turma deixa claro que o skate é um esporte que pode ser praticado até por pessoas com idades mais avançadas, gente séria, profissionais competentes e pais de família, todo mundo de boa!

É gratificante, também, saber que somos referências para outros skatistas mais velhos de outros estados e até de outros países, estimulando essa galera a se organizar, andar juntos e se divertir.

Nos todos somos agradecidos!

A palavra de ordem é: Obrigado Skateboard.

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