O Baile Místico voltou

Foram três anos sem Cortejo e dois adiamentos, mas baile místico levou às ruas da Ilha  a magia das bruxas e do fantástico!

textos LU ZUÊ
foto de abertura ANTÔNIO CARLOS MAFALDA |MAFALDAPRESS

Foi bem no finalzinho de outubro – após dois adiamentos por conta das chuvas que caíram sem dó ao longo de todo o mês   – que bruxas e seres místicos passearam pelas ruas centrais da Ilha, no Cortejo Baile Místico. O evento iintegrou a programação da Feira de Cascaes – Outubro Místico, da Fundação Franklin Cascaes, e tem como fonte de inspiração a lenda “Baile das Bruxas de Itaguaçu”, de Gelci José Coelho, o querido Peninha, que partiu no início deste ano.

Roseli da Silva Pereira (presidente da Fundação Franklin Cascaes) e Bebel Orofino (coordenadora de produção do evento) | Foto: Lu Zuê

E foi mágica – melhor dizendo, bruxólica – a mudança de tempo que fez do domingo, 29, um dia ensolarado, colocando por terra as previsões climáticas, que ao longo da semana alertavam a população de que ela continuaria forte, com possibilidade, inclusive, de mais um ciclone! Parece mesmo que o Peninha operou um milagre, posagora… Afinal todos sabem que Floripa rima com magia, e que não se deve mexer com bruxas! Se for a hora desejada, elas vêm!

Pouco depois das 15h30, debaixo de um sol forte e sentindo na pele um calor que já deixava saudades, o cortejo deixou o Largo da Catedral. Puxado por um grupo de bruxas ciclistas e um trio elétrico, vinha atrás um grupo formado também por benzedeiras, fantasmas, lobisomem, boitatás, sereias, personagens do Boi de Mamão, bonecos do Berbigão do Boca e até a Dona Bilica e o manezinho Darci.

Bruxas e Catedral Metropolitana: sincretismo religioso na Ilha da Magia | Foto: Antonio Carlos Mafalda

Espalhando muita cor e alegria pelo Centro, o grupo seguiu pela rua Tenente Silveira, arrastando junto uma multidão animada, heterogênea em suas características, mas completamente homogênea na alegria e disposição. Todo o desfile foi embalado pelo som da banda de Amor à Arte e da Bateria do Baiacu, mas em algumas paradas pontuais – como em frente ao mural em homenagem a Antonieta de Barros – foi o batuque do bloco feminino Cores de Aidê que, num ritmo cativante, envolveu as pessoas com muita força e emoção. O desfile seguiu pelo calçadão da rua Deodoro até chegar ao Mercado Público, e foi de arrepiar!

A chegada do cortejo ao Largo da Alfândega foi o ponto de partida para o show ‘Caldeirão do Bruxo’, de Valdir Agostinho, que encerrou o Baile. “Foi impactante…. fiquei emocionada o tempo todo por presenciar esse abraço à cultura local, à arte viva… É tão significativo ver o efeito que esse Baile Místico provoca nas pessoas”, comentou Bebel Orofino, coordenadora de produção do evento. Segundo ela, isso corresponde à materialização do trabalho de nossos artistas. “Uma coisa é você ver o galo do Meyer Filho num quadro, e outra é você dançar com o galo num desfile pela cidade”, explicou Bebel. E por falar no galo, quem também estava feliz, feliz, era Sandra Meyer (filha do artista plástico Meyer Filho), que destacou o comprometimento da equipe organizadora do evento. “Foi um esforço muito grande, abrilhantado hoje pelo sol e pela adesão de todas essas pessoas. Depois da ausência dessa manifestação desde 2019, sinto que esta edição reacendeu ‘a chama’, e o evento tende a crescer”, afirmou.

Para os organizadores, esta foi a terceira edição do Baile Místico, mas aqui cabe uma explicação: lançado em 2019 com uma homenagem a Franklin Cascaes, o bruxo-mor da Ilha de Santa Catarina, o Baile Místico teve sua trajetória “interrompida” com a chegada da pandemia e de suas inúmeras restrições. Mas a proposta de promover a valorização da cultura e homenagear os artistas locais que trabalham com o universo mitomágico nunca foi deixada de lado. “Esta foi a segunda vez em que aconteceu o cortejo do Baile Místico, mas chamamos de terceira edição do evento porque a inauguração do mural ‘O Baile Místico de Meyer Filho’, de Rodrigo Rizo, foi a ação que marcou a segunda edição”, justifica Bebel.

Foto: Lu Zuê

Festejar as bruxas… mas as nossas!

A ideia do Baile Místico surgiu como um contraponto à americanização da comemoração do Dia das Bruxas que vem tomando corpo no Brasil nos últimos anos, e agregou esforços de pessoas que atuam em diferentes áreas mas que têm em comum o respeito, o reconhecimento e o compromisso de preservar a cultura da Ilha. Homenageando sempre os artistas locais que se dedicaram ao universo mitomágico da arte catarinense, o Baile Místico já abraçou Franklin Cascaes, Meyer Filho, Vera Sabino, Jandira Lorenz e, neste ano, Peninha. Na próxima edição, Eli Heil e Hassis (pelos seu centenário) serão os artistas homenageados. “Somos a única cidade no País que tem esse acervo de lendas de bruxas, que se soma a muitos outros mitos e figuras fantásticas, e se não resistirmos para proteger a riqueza de nosso patrimônio cultural oferecendo às pessoas o que temos por aqui, que é tão rico e tão bonito, o outro vem e ocupa o lugar; e aí não adianta culpar”, explica Bebel. Pois bem… observando a alegria e empatia do público com os personagens que fazem parte da cultura e do fantástico que reina na Ilha, é possível sacramentar que o espaço vem sendo, sim, muito bem ocupado pela cultura local.

Personagens, cores e alegria num domingo mágico

O cortejo do Baile Místico confirmou que nossa Ilha é um exemplo ímpar de magia e mestiçagem cultural. Gratidão a todos os artistas e produtores que abraçam a causa e fazem essa iniciativa acontecer. Embalado por canções que iam do Hino do Baile Místico ao Rancho de Amor à Ilha, passando pela marchinha envolvente do Berbigão do Boca e do repertório do bloco Cores de Aidê, um público muito animado curtiu passear pelas ruas com os seres fantásticos que tomaram conta do Centro.

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