Instituto Collaço Paulo celebra o legado de Rodrigo de Haro
texto NÉRI PEDROSO
fotos MARCO CEZAR
Uma coleção de arte carrega substrato histórico e cultural sobretudo se está a serviço de uma comunidade, como um meio condutor de ações e de promoção das artes visuais, através da salvaguarda e de programas educativos. Na mostra “Máscara Humana”, o Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação põe o foco sobre 80 obras do artista Rodrigo de Haro (1939-2021), um dos expoentes do cenário das visualidades de Santa Catarina com uma produção pujante em desenhos, pinturas, poesia e livros.
A curadoria de Francine Goudel estabelece um recorte temporal entre o fim dos anos 1960 e o começo dos 80, quando o artista criou as pinturas e os desenhos apresentados junto a 25 objetos pertencentes ao erudito artista, autor de uma extensa contribuição em artes visuais, além de inúmeras publicações que o consagram como poeta.
O público tem acesso gratuito com visitação aberta até 26 de abril de 2025. A exposição conta com o apoio do Serviço Social da Indústria (Sesi), apoio cultural da Ibagy, Cassol, Softplan, Hurbana, Corporate Park e Paradigma Cine Arte, e o patrocínio da Prefeitura de Florianópolis por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.
Entidade privada, sem fins lucrativos, o instituto atua para promover a arte e a cultura com programas de cunho educativo e salvaguardar a Coleção Collaço Paulo, do casal Jeanine e Marcelo Collaço Paulo. Quinta exposição realizada desde a inauguração em 2022, essa é a que delineia algo além da produção simbólica das obras.
O conjunto e a seleção de trabalhos indicam um tênue fio que leva a pensar como se constitui o acervo iniciado há 40 anos em Florianópolis. Entre múltiplas possibilidades, a formação do núcleo Rodrigo de Haro dentro da coleção se dá no desejo e valorização do trabalho artístico; e pelo conhecimento e convívio com o criador e a cidade.
Da proximidade e dos privilégios
Ao se deter nas obras de “Máscara Humana”, Marcelo Collaço Paulo, diretor-presidente do instituto, deixa fluir as lembranças de uma amizade de longa data, dos afetos, descobertas e falas da juventude, recortes da vida de uma Florianópolis sobretudo nos anos 1970. Da proximidade, “do privilégio de conhecer e contar com a amizade desse grande artista”, Collaço Paulo lembra de um Rodrigo inteligente, mordaz, com fala pausada e alguém capaz de aglutinar seguidores. Recorda também os encontros, os cafés, as conversas sem fim, as afinidades no campo das ideias.
“Muito Além da Coleção”,
um dos segmentos do espaço expositivo, condensa uma história fraterna entre dois amigos que, ao longo de cinco décadas, juntos, um como artista e o outro como médico e colecionador, condensaram um acervo de obras, ideias e imagens. No exercício da convivência engendraram diferentes modos de negociação, de trocas, compras, encomendas, presentes, escambos, dedicatórias. “Tem um quadro com três metros, sobre Florianópolis, que eu, praticamente, exigi”, conta Marcelo, que acompanhou o artista como médico até o fim de sua vida. Após a morte, a Coleção Collaço Paulo incorpora livros e objetos, entre eles a cadeira de madeira policromada incluída na mostra.
O compromisso com a memória deste legado se aprofunda, assume outros contornos.
O intimismo fraterno se atesta nos retratos de Jeanine e Marcelo Collaço Paulo, presente de casamento dado ao casal por Rodrigo de Haro em 1981, e uma encomenda “Madame Bovary” (1980). Parte do acervo pertencente ao artista integrada à coleção inclui cristais Lalique, vasos Pantin, peças em vidro, bronze e mármore com estética Déco e Nouveau que, segundo a curadora, “descrevem o gosto sofisticado de um criador de múltiplas influências”.
No mesmo espaço, há quatro peças de cerâmica pintadas nos anos 2000, a pedido do colecionador.
Para o colecionador, sobretudo a produção dos anos 1970 de Rodrigo de Haro desmascara o que estava oprimido, sinaliza como a sociedade clamava por uma liberdade de comportamento e discutia o impacto das mudanças mundiais. “Rodrigo foi o porta-voz de uma época, além da beleza pictórica, um vaticinador das mudanças de um jovem que se depara com a dissecção do corpo e da alma”, diz ele.
Perfil intelectualizado e universalista
Rodrigo Antonio de Haro (1939- 2021) nasce em Paris, na França, e chega ao Brasil, com os pais Martinho (1907-1985) e Maria Palma de Haro (1914-2000), com um ano de idade. Inicialmente o casal vive no Planalto Serrano de Santa Catarina até 1942, quando a família vem a Florianópolis (SC). No intenso movimento da casa paterna, Rodrigo absorve os movimentos no ateliê do pai, molda um perfil intelectualizado e universalista.
Nos anos 1970, Rodrigo mora entre o Rio de Janeiro e São Paulo, onde convive com artistas, poetas e músicos renomados da cena cultural brasileira. Em recitais e mostras, em importantes galerias e instituições museológicas do Brasil, ele acentua as articulações com o circuito artístico do eixo Rio-SP. “Um dos exemplos da arte sul-americana mais definitivos dentro da contemporaneidade”, afirma o crítico Fábio Magalhães. Nos anos 1990, o artista segue inserido no circuito artístico nacional com exposições individuais e coletivas.
Na história cultural de Santa Catarina, o legado situa-se em pinturas, desenhos, murais cerâmicos, poesia – artes visuais e literatura. Além de livros manuscritos e ilustrados, o desenhista, pintor, poeta, contista e editor manteve-se lúcido e atuante até a morte, em 2021, dono de um saber sem comparativo no Estado.
Sinopse
Ávido na observação da condição humana, em suas composições Rodrigo de Haro (1939-2021) recorre frequentemente ao símbolo da máscara. Objeto imprescindível no palco da humanidade, esse signo plural conduz nesta exposição por entre os temas explorados pelo artista na década de 1970, em um recorte da Coleção Collaço Paulo. A criação de personagens, as fabulações ambíguas e sujeitos que transparecem instinto e sexualidade encenam um tecido social libertário, mítico e fantasioso, produzidos em um período singular da história. As composições de forte carga simbólica têm suas raízes exercidas em um contexto local, mas em diálogo com a universalidade da arte e às questões atemporais dos indivíduos.
Serviço
O quê: mostra “Máscara Humana”, de Rodrigo de Haro
Quando: até 26.4.2025; seg. a sáb., 13h30 às 18h30
Onde: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, rua Des. Pedro Silva, 2.568, bairro Coqueiros, Florianópolis (SC), tel.: 3025-4058
Quanto: gratuito
Saiba Mais
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