O que uma menina nascida em uma pequena cidade do interior, vinda de uma família humilde poderia esperar da vida?
Depende….. da coragem, vontade e determinação, do olhar atento para as oportunidades e da certeza de que ‘esperar’ não era o caminho.
fotos MARCO CEZAR
texto LU ZUÊ
Hoje empresária, Jady Ferreira está à frente e de um pool de empresas – é CEO da Startex Confecções e sócia-fundadora de outas duas -, é responsável por 500 empregos diretos e 3500 indiretos, tem orgulho da trajetória percorrida e trabalha com a certeza de que determinação, foco, fé e amor pelo que se faz são ingredientes indispensáveis para o sucesso.

Desde menina ela pensava sobre formas de ‘mudar de vida’. Nascida na pequena Sangão, na região sul de Santa Catarina, filha de uma costureira e de um cortador de pedras, a origem humilde absolutamente não limitou os sonhos e projetos de Jady. Na verdade, segundo relembra, esse foi um estímulo para buscar alternativas e trilhar caminhos que a conduzissem para um mundo diferente daquele que conhecia. “Eu não tirava da cabeça a pergunta: ‘Como é que eu vou fazer para mudar de vida?’. Eu queria crescer e escrever uma história de sucesso pessoal, mas sabia que não tinha dinheiro de família e que um príncipe rico não bateria à minha porta. Então me conscientizei de que a responsabilidade era minha, e que eu teria que construir a minha história”, relembra.
A caminhada pode muito bem ter começado quando, aos nove anos, aproveitava momentos em que a mãe se afastava da máquina de costura para começar a vivenciar a experiência que a acompanha até hoje. “Algumas vezes sobravam até algumas palmadas por mexer onde ‘não devia’”, conta.
Aos 14 anos, Jady conseguiu seu primeiro emprego numa facção, aprendeu a costurar melhor e lá foi cultivando e moldando um comportamento que a vem conduzindo ao longo da vida, e que tem tudo a ver com o sucesso que alcança: fazer sempre mais do que é pedido e melhor do que é necessário. “Eu tinha em mente que teria que ser a melhor naquilo que eu fizesse. Então, se era para ser costureira, eu seria a melhor, porque um dia haveria uma oportunidade para a melhor costureira”. E ela chegou!
Em pouco mais de dois anos, a adolescente determinada passou de costureira iniciante a líder de grupo – “o que mais produzia”, revela -, e aos 18 foi alçada ao cargo de gerente-geral de uma empresa com 270 colaboradores.

Troca de emprego e recomeço
Com uma rotina puxada de trabalho e estudo – estava cursando moda -, aos 24 anos a empresária recebeu um convite para trabalhar como estilista numa empresa, mas, é claro, levou para o novo trabalho o mesmo comportamento e seguiu fazendo além daquilo que era sua função. “Eu era estilista, mas também cuidava da produção, onde já tinha experiência, e comecei a ajudar em vendas. E a empresa cresceu muito”, explica.
Essa busca constante por experiência contribui para que estabelecesse uma valorosa rede de contatos, e em 2008 foi convidada para assumir o cargo de diretora comercial de uma grande empresa, o que para a menina que havia começado na máquina de costura, era o auge da realização. “Me dediquei muito à empresa, que estava em uma situação delicada… trabalhei duro e o negócio se recuperou! Então, no dia do meu aniversário, 5 de janeiro em 2009, fui demitida”. Tempos difíceis.

A tristeza pela demissão aliada à dor da perda da mãe, literalmente tirou o chão de Jady, mas a recuperação do foco veio rapidamente, estimulada, aliás, por um ensinamento repassado justamente pela mãe. “Ela sempre dizia que se a gente confiasse em Deus e acreditasse que as coisas boas iriam acontecer na nossa vida, elas aconteceriam. Eu tinha isso em mente e essa era a minha motivação pessoal”, afirma.
Independência
Coragem. Esse foi o ingrediente para passar por um dos momentos mais difíceis e literalmente se reinventar. “Fui questionada por uma pessoa se não sabia cortar, criar e vender roupas. Diante da resposta positiva, veio o conselho para criar um negócio próprio. Sem capital, mas com um sonho, chamei minha irmã e um amigo com quem já havia trabalhado e compartilhei a ideia. Eu não tinha recursos, mas vendi o que podia para levantar o capital, eles pegaram junto, aluguei uma sala e contratei oito funcionários. Assim, 33 dias após a demissão, comecei meu negócio e nascia a StarTex”, conta, emocionada.
A propósito, Jady não esconde emoções. Chega às lágrimas quando fala da mãe, da relação com as irmãs, do crescimento da(s) empresa(s), do nascimento do filho, da responsabilidade com os colaboradores e suas famílias e da fé em Deus, que se fortaleceu nos momentos mais difíceis e hoje é sua força.

Contrariando previsões do mercado e da concorrência a Startex prosperou e foi ganhando credibilidade e conquistando sucesso. Em 2017, já contando com cerca de 300 colaboradores, surgiu a oportunidade de fundar um parque fabril completo, com 7 mil m² de área construída. “Nós produzíamos 200 mil peças, e eu já concorria diretamente com as maiores empresas do segmento. E aí veio a pandemia, que foi um momento difícil para todos”, relembra. Jady explica que diante da possibilidade de ter que dispensar trabalhadores, novamente se voltou para a própria essência. “Orei, e fomos superando os momentos mais difíceis com trabalho e compreensão das pessoas e de suas necessidades. Eu era assim desde o começo, quando era costureira, e tive como princípio manter esse comportamento ao longo de toda a minha trajetória”, faz questão de frisar.
Esse princípio se reflete nas práticas da empresa. A StarTex é uma empresa inclusiva, que respeita a diversidade. Números comprovam tecnicamente: quase 70% dos colaboradores são mulheres, 55% são negros e pardos e mais de 30% são da comunidade LGBTQIA+. “E eu acredito muito que isso foi o principal valor que nos fez crescer. Porque as pessoas sempre foram muito engajadas com a empresa porque sentem-se respeitadas e valorizadas”, justifica a empresária.
Em 2020, sem medo e com muita confiança, em meio ao turbilhão de limitações provocadas pela pandemia abriu uma nova empresa – em maio daquele ano foi criada a Pigmento. Já na primeira coleção a marca foi muito bem recebida; e essa aceitação ampliou-se na segunda coleção. Assim, a marca vem conquistando o mercado a cada ano!

Chega? Nada disso!
Em 2022, em conjunto com a irmã, Jady criou uma nova marca, a Pé de Ameixa. Esse nome, aliás, vem de uma memória afetiva, relacionada às conversas que tinham na infância, sob um pé de ameixa no quintal de casa.
Sorte? Não…. muito trabalho, determinação e fé!
E ainda dá tempo…
Com todo o trabalho que sempre teve, Jady ainda enfrentou o desafio de ser presidente de um clube de futebol – o Metropolitano, de Nova Veneza -, e sob seu comando, o time conquistou seis dos sete títulos que disputou. “Eu sou muito disciplinada e organizada, e daí consigo cuidar bem de tudo. E como mulher, presto muita atenção aos detalhes”, explica.
E nesse tudo, estão os negócios, a atenção ao filho, o autocuidado e a vida com o namorado, o empresário Leandro Piazza, de Florianópolis. “Sempre vivi em Criciúma, e agora nos dividimos entre Floripa e o sul. Nós nos identificamos muito. O Leandro tem uma família linda também, e como sou muito ligada à família, tem sido perfeito. E conhecer cada canto da Ilha tem sido apaixonante, ainda mais com alguém especial ao meu lado”, confessa.
Disposição para compartilhar experiências
Para Jady, falar sobre o sucesso nos negócios e sobre a própria história de realização tem a ver com a disposição para compartilhar experiências
Ela faz questão de frisar que tudo o que conquistou comprova que qualquer pessoa, independentemente de onde venha, pode superar obstáculos, empreender e prosperar. “Eu sempre tive objetivos, tracei metas, trabalhei muito, orei pedindo e agradecendo. E sempre tive confiança em Deus. Se minha trajetória inspirar e estimular as pessoas, minha realização será ainda mais plena”, conclui.

SAIBA MAIS
Para conhecer um pouco mais desta história:
- @startexconfeccoes
- @pigmentojeans
- @pedeameixalabel