texto LU ZUÊ
fotos MARCO CEZAR
O que dizer de “meninas” que sempre foram estimuladas a tentar, criar, compartilhar saberes e deixar fluir a “veia artística”, com a certeza de que toda forma de expressão pode, sim, ser vista como arte?
É só dar uma “passadinha” na ‘art&co.’para sentir a vibe e entender na prática a resposta para essa pergunta.
Mas afinal, o que é a ‘art&co.’? Fruto de uma ideia das irmãs Fernanda (Ramos Pereira Oliveira, a Nanda) e Daniela (Ramos Veiga, a Dani), a art&co. nunca foi pensada para ser uma escola de artes manuais comum, mas sim um espaço para aprender (é claro!) técnicas de ofícios artesanais mas, muito mais, para funcionar como um ambiente onde se passa bons momentos de troca de experiências, de emoções e principalmente para levar adiante a ideia de que todos são livres para experimentar formas de manifestar seu(s) talento(s), criatividade e vontades.
“Era exatamente isso que desejávamos desde o começo”, sentencia Dani. “Fomos assim quando crianças, criamos nossos filhos desta forma e esta escola surgiu para servir como uma terapia. Aqui as pessoas exercitam a criatividade, liberam emoções, conversam sobre filhos, sobre família, trabalho, trocam experiências e dicas. E o legal é que apesar de nem todas estarem no mesmo momento da vida, sempre têm algo para compartilhar, e gostam muito do resultado de todas as experiências”, complementa.
E tudo vem dando muito certo, pois alunas e professoras literalmente se permitem curtir muito não apenas o que ensinam e aprendem, mas também os momentos que ali passam.
As aulas de bordado, por exemplo, começaram de forma tímida e silenciosa, mas aos poucos a sintonia foi crescendo, e hoje é uma experiência única acompanhar um grupo de mulheres de cabeça abaixada e olhos fixos nos pontos coloridos que tomam forma e que, mesmo assim, mantém uma conversa intensa e animada. Verdade seja dita: são vários assuntos discutidos ao mesmo tempo, naquele caos criativo só possível a partir da alegria e da realização.
Isso se repete nas aulas de pintura, corte e costura, crochê, na queridíssima e popular aula de aquarela …
E de onde veio a ideia da escola?
Assim como muitos projetos, a art&co. começou a ser idealizada no momento de realidade reclusa provocada pela pandemia, em 2020.É certo que considerando o histórico das irmãs, as atividades artísticas sempre estiveram presentes, mas com as famílias recolhidas por meses nas residências de praia (em um mesmo prédio!), a busca por convivência e atividades para combater o ócio físico e mental acabaram criando o embrião do que seria mais tarde a escola.
“Estava tudo fechado, comércio parado, limitações de deslocamento… não podíamos sair, e então nos reuníamos para fazer algo juntos. A casa da Dani se transformou em uma espécie de ‘hub’, onde havia gente desenhando, pintando panos, telas, pratos, bordando, transformando roupas…. cada um procurando algo para fazer”, relembra Fernanda.
A angústia da incerteza sobre o futuro acabou engolida pelas atividades criativas, e a consequência óbvia foi a constatação: se funcionou tão bem em uma situação grave, como não compartilhar a ideia com mais pessoas, no dia a dia?
Amadurecer a proposta foi uma questão de tempo. Na verdade, pouco tempo, porque terminado o período de reclusão, resolveram usar uma sala de propriedade da família no edifício Ceisa Center e, com móveis usados (herança da agência de viagens da mãe, que encerrou as atividades na pandemia), cortinas feitas por elas próprias, papel de parede e painéis que ganharam de um amigo do marido de Daniela (o publicitário Fábio Veiga) e muita disposição sempre aliada à criatividade e bom humor, encararam o novo desafio.
Parte da decoração do lugar veio dos trabalhos que Dani e Fernanda faziam com os filhos quando pequenos, e outro tanto, das “obras” produzidas durante a pandemia. Mas a verdade é que em todo aquele ambiente acolhedor, qualquer trabalho é tratado como obra de arte.
Olívia Ramos Veiga, filha mais nova de Daniela e Fábio, pegou junto desde o início, demonstrando logo uma aptidão para o negócio e um olhar apurado para arte e divulgação (surpresa nenhuma, afinal, o fruto nunca cai longe…. filha de artista e publicitário, um dos dois – ou os dois – caminhos pode seguir). Vale muito a pena ver o videozinho rápido fixado no feed do instagram da escola, produzido e narrado por ela para entender bem a essência da art&co.!
No turbilhão de alternativas que surgiam, as irmãs deduziram que as atividades manuais não eram práticas comuns em pessoas com idades semelhantes às delas, mas sim nas que fazem parte da geração anterior, ou seja, das mães. “O que pensamos, então? Vamos montar a escola para senhoras, que estão já na fase de ficar mais em casa e depois da pandemia vão querer retornar ao convívio social. E quando abrimos as portas, em abril de 2022, quem veio? As pessoas de nossa geração e, curiosamente, também as mais novas, trazidas pelas nossas filhas, que queriam ‘experimentar’, e curtir o momento. A maioria de nossas alunas, inclusive, trabalha normalmente durante o dia e aposta nas aulas e encontros como alternativa para vencer o stress diário”, explica Dani. Essas observações ampararam mudanças de práticas, inclusive em relação aos horários para se oferecer as aulas: se antes, por exemplo, práticas como aquarela foram disponibilizadas à tarde, o público demandou a oferta de horários à noite. “Fica como a academia da noite, entende? A ginástica mental, que libera a endorfina e ajuda as pessoas a serem mais felizes!”, completa. Os estímulos? O bordado, corte e costura, crochê, pintura em tela, em vidro, aquarela….
Exemplos que explicam (e inspiram!)
Apesar de relativamente nova, a art&co. vem se consolidando como o espaço especial para pessoas de todas as idades, o que sempre foi o objetivo das irmãs Fernanda e Daniela. Tanto para uma senhorinha, portadora de Alzheimer – que é levada pelo marido semanalmente para as aulas de crochê – quanto para uma médica de 28 anos que trabalha na emergência de um hospital.
Enquanto a primeira já não tem muitas memórias, mas não esquece dos pontos de crochê e vive momentos de profunda alegria nos encontros semanais, a outra mergulha nas aulas de aquarela para deixar de lado, por breves momentos, a rotina dura e pesada do trabalho diário, produzindo algo belo e sensível.
“Há como duvidar que isso é, realmente uma terapia?”, questiona Olívia.
Incansável, o grupo está sempre buscando mais alternativas. Já aconteceram, por exemplo, programas especiais para celebrar aniversários e também para noivas e madrinhas, juntando um animado happy-hour à criação de presentes personalizados, além de oficinas criativas e workshops! Há sempre espaço para inovar! “Daqui para frente, o que queremos é ampliar cada vez mais a oferta de cursos, conquistar novos alunos e, claro, manter os que já temos, porque estamos construindo relações e escrevendo uma história muito legal”, justifica Fernanda.
Entre os cursos programados para (bem) breve estão cerâmica (que já foi tema de uma oficina) e scrapbooking, e as próprias alunas não economizam em sugestões. “Vejo que as gerações mais recentes se ressentem por não ter tido acesso a essas experiências, e como os mais jovens são mais confiantes e preferem a liberdade criativa, aquela visão que tínhamos desde a infância, inspiradas e estimuladas pelos nossos pais e avós ganha força: você pode, sim, fazer arte”, afirma Daniela.
SAIBA MAIS
As aulas são semanais, com duração média de três horas.
Os cursos:
Aquarela
Crochê e tricô
Pintura em vidro
Corte e costura
Bordado
Costura Criativa
Não deixe de visitar: @escolaarteco