Tesouros do fundo do mar

Fotógrafo Antônio Husadel registra o universo marinho com maestria, e nutre especial apreço pelos naufrágios

Texto: Olavo Moraes
Fotos: Antônio Husadel

A imagem submarina encanta e surpreende. A aura de magia da fotografia subaquática exige talento, técnica e dedicação extrema. Engenheiro mecânico e advogado de formação, Antônio Husadel, 53 anos, tem intimidade com o mar. Natural de Blumenau, é fotógrafo e instrutor de mergulho. Uniu a paixão pelo universo marinho ao olhar apurado através das lentes da câmera.

ILHAS CAYMAN

Fotos: Antônio Husadel

Fotógrafo internacional, tem registros por todo o globo. Amante do mundo subamarino, nutre especial apreço por naufrágios. Dentre inúmeros trabalhos e ensaios, a Revista Mural selecionou imagens das Ilhas Cayman, de tirar o fôlego. O trabalho de curadoria foi meticuloso, e o resultado final está nas páginas que se seguem.

“Meu primeiro mergulho para fotografar foi atrás do Hotel Plaza Itapema, na ilhazinha. Lá fiz as primeiras fotos”, relembra com carinho Husadel.

As ilhas

As Cayman são território britânico ultramarino, formado por três ilhas. Grand Cayman é a principal, com aproximadamente 50 mil habitantes, e onde praticamente tudo se concentra. Ainda há a Little Cayman e a Cayman Brac, ambas com pequena população, acessíveis por vôos regulares realizados em pequenos aviões.

Cayman Brac

A Cayman Brac, uma das ilhas irmãs que formam o trio das Caymans, oferece suas próprias experiências de mergulho. Nela, os visitantes encontrarão ambiente isolado e mais de 65 pontos de mergulho. Cayman Brac tem a famosa fragata russa Capitão Keith Tibbetts, com estrutura imponente de 330 pés. Esse navio de guerra, que nunca chegou a participar de batalhas, foi construído em 1984 em Nadhodka, na antiga União Soviética.

Agora no fundo mar, permite que os mergulhadores visitem vários de seus compartimentos originais em um ambiente seguro, incluindo o lançador de mísseis, as torres de metralhadoras e os canhões, além de permitir que os visitantes nadem pelo acesso à ponte e pelas plataformas superiores.

Cayman Brac também abriga a Oceanic Voyageurs, uma estátua submersa em águas rasas que fornecem uma experiência única de mergulho e snorkel. Para os que desejam apenas explorar a região, existem jardins de corais e cavernas que podem ser visitadas.

A fragata russa

Fotos: Antônio Husadel

Em setembro de 1996, uma antiga fragata da classe Koni II da marinha cubana, designada 356, foi afundada propositalmente em águas rasas em Cayman Brac. O navio foi construído em 1984 como uma das três fragatas da classe Koni II vendidas a Cuba, para apoiar sua frota da Guerra Fria.

Em 1996, o navio foi comprado de Cuba pelo governo das Ilhas Cayman para ser afundado em Cayman Brac como atração de mergulho. A fragata estava afundada na vertical e, inicialmente, o convés repousava 90 pés (27 metros) abaixo da superfície. Uma grave tempestade, em 2004, partiu o navio em dois, e seu arco agora está em um ângulo de 45 graus, enquanto suas naves espaciais se tornaram campo de destroços.

Antes de ser afundado, o navio foi renomeado Capitão Keith Tibbetts, em homenagem a um político e mergulhador local. É um dos poucos barcos Naval Soviéticos afundados no Hemisfério Ocidental, e o único, de dois, que tem fácil mergulho, incluindo o navio irmão SKR-451.

O paraíso não é só fiscal

Quem observa as largas avenidas, as torres com escritórios dos conglomerados financeiros internacionais, as lojas de grifes e os carros de luxo, dificilmente imagina que o maior tesouro das Ilhas Cayman está no fundo do mar.

Somadas, as três ilhas de Cayman reúnem mais de 365 pontos de mergulho, cada um mais surpreendente que o outro. Em Grand Cayman, a maior delas, é possível optar por mais de 130 pontos, muitos localizados a menos de 800 m da praia. Pode-se admirar corais, peixes de vários tamanhos e cores, arraias e tartarugas, uma abundância de espécies marinhas.

Há também os paredões que cercam as ilhas (96 km deles só em Grand Cayman), além de cavernas, cânions e naufrágios. Umas das opções mais famosas em Grand Cayman é Stingray City, ou Cidade das Arraias, um viveiro desses animais que fica em um banco de areia do lado ocidental. Com apenas 3,5 m de profundidade, é possível nadar com mais de 20 arraias-prego “domadas”, que circulam pelas águas banhadas ao sol.

Centro de mergulho em 1957

O arquipélago ficou famoso por aparecer no noticiário relacionado a remessas de quantias para contas secretas. Mas as ilhas Cayman guardam mais que segredos bancários. Em 1953 foi aberto lá o primeiro banco comercial, o Barclays Bank. Na ocasião, alguns hotéis começaram a funcionar, e, em 1957, o pioneiro Bob Soto inaugurou o primeiro centro de mergulho.

Alguns anos mais tarde, o governo promulgou leis para tirar proveito da ausência de tributação e estimular o crescimento do setor bancário. De repente, as ilhas Cayman – hoje um dos principais centros de investimento offshore do mundo – estavam no mapa, tanto como centro financeiro internacional quanto como destino de turismo e mergulho.

FOTOGRAFIA SUBAQUÁTICA

O que pensa o artista

“Gosto dos naufrágios porque eles sempre contam uma história”

“Foto legal é quando você coloca o leitor dentro da imagem. Aquela que a pessoa se imagine fazendo parte do contexto. Na fotografia submarina, gosto de fotos que tenham pessoas”

“Em 1992 comprei a primeira câmera submarina, uma Nikonos 5, com lente de 15mm. Anfíbia, sem caixa estanque, e ajustes manual” 

“Até 2004 vivemos a fase analógica. Hoje, nas câmeras DSLR, fazem adaptação para usar aquela lente (Nikonos de 15mm)”

“Fotografo digital e RAW, faço pequenos ajustes. Os campeonatos de fotografia submarina não permitem manipulação exagerada”

“Para fotografia submarina, o que estiver além de um braço esticado está longe demais. Pode ser tubarão, naufrágio…” 

“Uso uma super grande angular. Ou você usa macro ou super grande angular, a minha é uma 10mm”

“Se as tuas fotos não estão boas o suficiente, é porque você não está perto o suficiente”

“Uma foto bacana tem que contar uma história sem palavras”

“A grande questão e fazer o balanço da luz ambiente com o flash”

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