texto LU ZUÊ
fotos MARCO CEZAR
Existe uma característica que todos os cronistas precisam ter: a capacidade de identificar no cotidiano fatos, impressões e realidades nem sempre percebidas pela maioria das pessoas
Mas subindo “um pouquinho” mais a régua, existem aqueles que além de perceber as coisas, traduzem suas impressões – de maneira competente – na forma de retratos verbais do cotidiano com inteligência, bom humor, opinião, muita cultura e uma escrita leve, coloquial e atenta aos detalhes, ora reflexivas e ora argumentativas, estabelecendo, assim, uma conexão com o leitor. Aí se encontram os gênios da crônica… e aí se encontra o jornalista Paulo da Costa Ramos, o PCR, que no final de 2023 brindou o público com o livro ‘Outros Tempos’.
Resultado de uma profunda, exaustiva e muito animada pesquisa realizada pelo publicitário Fábio Veiga e a filha, Sofia Ramos Veiga (genro e primeira neta de PCR), o livro apresenta uma rica coletânea de “70 anos de crônicas saborosas, inteligentes, debochadas, nostálgicas, comoventes e encharcados de estilo, escritas por um jornalista que sempre soube demais: Paulo da Costa Ramos”, conforme consta no título. O lançamento – realizado no Jazzinn Gastrobar, no Beiramar Shopping – reuniu um grande número de amigos de longa data do autor, entre eles muitos jornalistas que trabalharam com PCR e teciam comentários repletos de admiração sobre a qualidade dos textos de PCR, reforçando e complementando o título da obra, que reúne crônicas originalmente publicadas em jornais impressos pelos quais o autor circulou. A maioria delas era esperada ansiosamente pelos leitores do “O Estado” – “o mais antigo” – onde o autor foi colunista e editor do caderno cultural até os primeiros anos da década de 1970.
No evento, Veiga explicou o processo de pesquisa e seleção do material, e não escondia o orgulho e satisfação por trabalhar em parceria com a filha. Para dar conta da seleção, a dupla decidiu dividir a coletânea em dois períodos: o primeiro, de 1959 a 1972, e o segundo, com textos publicados entre 1988 e 2007. “Antes de tudo é um livro muito saboroso, muito divertido, que apresenta aos leitores textos de um jornalista que tem um estilo inconfundível. Tenho certeza de que as pessoas vão gostar muito e enxergar uma Florianópolis e uma Santa Catarina de outros tempos”, destacou Fábio.
Sofia, por sua vez, contou que o trabalho lhe deu a oportunidade de conhecer um PCR diferente do avô Paulo. “Nas muitas visitas feitas à Biblioteca Pública eu conheci o cronista Paulo, divertido e irreverente. Eu ria sozinha enquanto lia os textos”, confessou.
Entre os tantos jornalistas e ex-colegas de redação que lá estavam e faziam questão de trocar palavras e compartilhar lembranças com o escritor, Raul Caldas Filho destacou a quebra de paradigmas que PCR impôs na escrita dos jornais diários locais. “Ele inovou a crônica local falando de temas do cotidiano, rompendo a tradição que privilegiava as notas e os artigos opinativos”, afirmou.
Com forte veia literária e cultura ímpar, Paulo da Costa Ramos escrevia sobre as (muitas) viagens, futebol, curiosidades do dia a dia de Florianópolis e comportamento com a mesma desenvoltura e elegância, e isso fica muito evidente no livro.
Na festa de lançamento, na plenitude de seus 82 anos, Paulo da Costa Ramos autografou um a um os exemplares do livro vendidos na noite. As dedicatórias foram escritas pelo genro Fábio, mas o sorriso final para cada um que passava pela mesa era um caloroso presente a mais do autor.
Talento é herança de família
Filhos de Rubens de Arruda Ramos, Paulo e o irmão, Sérgio da Costa Ramos (outro gênio das letras) exercitaram desde cedo a escrita. E uma curiosidade: o tio deles, Jaime de Arruda Ramos, também era escritor (e adversário político do irmão, o que deve ter rendido boas batalhas literárias), mostrando que talento se herda, sim senhores. E, no caso de PCR, o talento começou a ser colocado em prática aos 11 anos, e já aos 17 via seus textos publicados em jornais.
E viria muito mais no futuro!
Um jornal que fez história
Em paralelo à convivência com o meio político, ao lado do irmão Sérgio, PCR criou e colocou em circulação o “Jornal da Semana”, que reunia em seu expediente nomes de peso (alguns deles, saudosos) do jornalismo de Santa Catarina.
A publicação era referência, e tinha linguagem e apresentação gráfica especiais, trazendo sempre matérias polêmicas e criativas.
Na capa, fotos dividiam espaço com ilustrações de Sérgio Bonson, que assinava também o projeto gráfico do jornal. Juntos, os irmãos e Ricardo Oliveira, Sérgio Lopes, Moacir Pereira, Bento Silvério, Norton da Silva, Carlos Damião, Paulo Dutra e Rivaldo Souza, entre outros, escreveram capítulos especiais do jornalismo impresso em nosso Estado.