HUGO AMA FLORIPA

textos LU ZUÊ
fotos MARCO CEZAR

Artista desde sempre, Hugo Rubilar vive da pintura há 40 anos, e é uma FI-GU-RA! Cabelos descoloridos e os óculos estilosos são sua marca registrada


Mas o que chama ainda mais atenção em Hugo é a energia, evidente na fala rápida, nos gestual agitado, e na intensidade de sua obra. Ele é chileno de nascimento, mas nos últimos 30 dos seus atuais 60 anos escolheu viver em Floripa (pelo sotaque parece que chegou ontem!), onde integra o grupo de artistas reconhecidos pela expressividade e estilo.

Para chegar até este momento e reconhecimento, a viagem foi longa, mas fundamental para a construção de seu trabalho. “A melhor escola para tudo é a vida! Eu descobri a arte ainda na infância, levado especialmente pelo meu pai, que me proporcionava isso com muita naturalidade. A vida foi me abastecendo com informações e impressões que sempre projetei em meu trabalho, hoje muito colorido e feliz”, conta, destacando que o amor à pintura é uma das mais antigas lembranças que tem. “O que lembro lá dos meus cinco anos, é Hugo chorando, Hugo pintando e ganhando concursos de arte. Eu comecei a ser pintor antes de qualquer outra coisa, e ainda hoje é a sensação mais visceral que eu sinto”, reforça.

Filho de professores, Hugo Rubilar nasceu em Santiago. Estudou comunicação na Escola de Artes e Comunicação do Chile, e aos 20 anos, quando o país vivia uma situação caótica imposta pela ditadura de Augusto Pinochet, decidiu partir para a Europa. “Naquele período era muito perigoso viver no Chile, especialmente para pessoas que como eu trabalhavam com arte e comunicação. Fugi da repressão e fui em busca de novas referências”, explica.

Passou pela Espanha e chegou à França. Escolheu Paris, onde vivenciou uma realidade muito diferente daquela que conhecia no país de origem. “Vivi em Paris em uma época em que havia muito incentivo à arte, e isso atraia pessoas de toda parte do mundo. Lá eu vivi intensamente e redescobri a pintura. Era diferente da que faço hoje, mas foi muito importante”, relembra.

Depois de 10 anos trabalhando muito e participando de movimentos culturais – que incluíram a ocupação de imóveis abandonados para transformá-los em espaços artísticos – Hugo achou que era hora de voltar. Além da vontade de conhecer mais lugares e pessoas, ele fez uma escolha pela sobrevivência, segundo suas próprias palavras. “Acabei mergulhando em uma vida de excessos e uso de drogas ilícitas, principalmente a heroína. E aí foi preciso escolher. Decidi pela vida”, sentencia.

Voltou para o Chile e para a família. Recuperou energias e decidiu sair para uma viagem pela América Latina. Passou pela Bolívia, Peru e Uruguai antes de chegar ao Brasil – mais especificamente em Florianópolis, mas isso é uma outra história!


Um novo caso de amor

Quando chegou a Florianópolis, Hugo Rubilar estava “enamorado” por uma brasileira, mas descobriu aqui um novo amor. “A primeira vez que cheguei no alto do Morro da Lagoa ‘mirei’ aquilo tudo e pensei: Este é o meu lugar. É aqui que vou viver e morrer”, conta, expressando de forma natural seu amor pela Ilha e pela Lagoa da Conceição. “Há algo bruto, mágico… me encantei e fiquei. Estou aqui há 30 anos, todo mundo me conhece e conhece meu trabalho”, complementa. Hugo ama a Ilha desde que aqui chegou.

O artista conta que logo ao chegar conheceu nosso editor, Marco Cezar. “Marco tirou uma foto muito louca: eu estava de capacete, com meu cabelo descolorido e em cima de uma moto. A foto saiu na coluna do Cacau Menezes com uma legenda mais ou menos assim: ‘Bad boy. Chico Mano curtindo a noite de Florianópolis’. Foi o que bastou para que eu ficasse conhecido. Eu fui num mercado e uma senhora me disse: ‘Ei, você está no jornal’. Eu não tinha visto ainda, mas aquela foi minha primeira aparição em Florianópolis”, relembra, rindo muito.

Reconhecimento

A partir daí, Hugo (que já tinha seu trabalho reconhecido na Europa e em diversos países da América Latina) ficou conhecido também no Brasil. Suas obras enriquecem paredes das casas de famílias tradicionais da Ilha e de personalidades como a modelo e apresentadora Fernanda Lima e a cantora Rita Lee, por exemplo.

O trabalho de Hugo Rubilar já foi, inclusive, destacado de forma sensível e carinhosa pelo artista plástico Luciano Martins. “Eu nem era artista quando vi seus primeiros trabalhos na Lagoa da Conceição, o lugar mais “moderninho” que Hugo, que já morou em Paris, escolheu para contar a sua história em cores. Ele foi também o primeiro que eu conheço que vive somente da arte e tem orgulho disso”, comentou Luciano quando apresentou uma exposição de Hugo.

“Eu começo a pintar logo cedo, com a alma e as ideias limpas. Às vezes sonho e venho para cá com a ideia pronta. Esse é o meu processo criativo”, explica o artista

A vida (e arte) na Lagoa

A Lagoa, aliás, foi – e é – muito importante na vida do artista, que destaca a evolução de seu trabalho em terras manezinhas.

“Lá na Europa vivi uma experiência muito louca. Minha pintura era mais agressiva. Aqui em Florianópolis eu vivi e vivo um momento diferente. Com certeza meu trabalho amadureceu, e me converti em um pintor mais profundo, porém mais simples”, explica.

O endereço de Hugo Rubilar na Lagoa sempre foi conhecido. Ele não mora mais lá, mas ainda hoje o ateliê fica na Osni Ortiga, no 993, lugar que ficou conhecido como a “casa” de Hugo, e que já foi palco de muitas festas e encontros animados e bem frequentados. “De certa forma, esta casa tem vida própria. Cheguei aqui quando o acesso ainda era uma trilha, e antes de mim, um tatuador viveu nesta casa. As portas sempre estiveram abertas e me sinto sempre muito seguro e protegido aqui dentro”, confessa, lembrando que já houve ocasiões em que entre 400 e 500 pessoas compartilharam o espaço. “Eram festas loucas e intensas, e fazem parte de minha história”, conta, acrescentando que a casa tem “muitos fantasmas”, que contribuem para deixar a energia do local ainda mais especial.

A energia – que se mistura com a calma evidente – e a luz (que passa pelas aberturas das janelas e do forro (que não mais existem) justificam o apego pelo lugar.

Todos os dias, Hugo e a companheira – também pintora – Kuke estão lá logo cedo. “Embora possa parecer difícil acreditar, sou muito disciplinado. Pelo menos com a pintura. Eu começo a pintar logo cedo, com a alma e as ideias limpas. Às vezes sonho e venho para cá com a ideia pronta. Esse é o meu processo criativo”, explica, acrescentando que, normalmente, quando cria uma obra imagina em qual local ela ficará. Algo como: “Este funciona bem em um quarto, este vai para um escritório, este criei para um espaço infantil…”. Mas depois de prontas são de quem as levar. “Meu maior compromisso é com a arte. E ela provoca impressões diferentes em cada pessoa”, afirma.

Atravessar a ponte

Durante todo o mês de setembro, o trabalho de Hugo Rubilar esteve em exposição na galeria Itaguaçu+Arte, sob a curadoria de Chris Ribeiro. Foi uma experiência diferente para o artista acostumado a expor pelo mundo. A exposição “Hugo te ama” (tomamos emprestado parte do nome para apresentar esta matéria) reuniu trabalhos inéditos do artista em um espaço totalmente novo para Hugo. “Florianópolis tem vários ‘guetos’. Existe o povo da Lagoa, o povo de Santo Antônio, o povo dali e de cá. Para mim, cruzar a ponte e expor no shopping mais antigo da região foi muito especial. Era o mesmo lugar e, ao mesmo tempo, um lugar totalmente diferente, com um público novo e diferentes expectativas. Achei muito interessante”, conta.

Para abrir a exposição, Hugo Rubilar criou uma obra especial. “É meu autorretrato. Sei que não está parecido comigo, mas é assim que vejo. Eu sempre compro roupas de tamanho menor e coloquei isso nessa pintura. Então é o Hugo! E Hugo te ama”, finaliza.

Simples assim!

contatos @hugorubilarpintor
facebook.com/Hugoatelier
hugorubilarpintor@gmail.com
+55 48 97400-2713

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