EM “DÁS UM BANHO, ZÉ PERRI!”, AS AVENTURAS DE ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY PELA ILHA DEIXAM IMPLÍCITA A IDEIA: EM FLORIPA NASCEU A INSPIRAÇÃO PARA “O PEQUENO PRÍNCIPE!”
texto LU ZUÊ
fotos DIVULGAÇÃO
Não restam dúvidas de que este nosso pedacinho de terra é mesmo inspirador, e talvez tenha sido esse um dos motivos para que Zé Dassilva fizesse dessa premissa um roteiro de um curta muito especial.
Diretor e roteirista de “Dás um Banho, Zé Perri!”, Dassilva pode ser explicado como um contador multilinguagem de histórias – ele é jornalista , chargista, é roteirista de séries e novelas para TV, já escreveu livros, produziu documentários e, a partir de uma história local, criou uma ficção encantadora. “Assistindo o filme, quem leu o livro vai identificar uma série de alusões a essa fábula escrita por Saint-Exupéry. É como se ele tivesse se inspirado nas situações que viveu aqui na Ilha com o Celestino para escrever a história. Apesar de morar no Campeche – onde quase todo mundo é pescador -, o Celestino é diferente, só quer saber de desenhar e resolve escrever uma carta desenhada para os pilotos da Aéropostale pedindo a ajuda para conquistar Rosa, a moça por quem está apaixonado”, explica.
A Aéropostale foi uma companhia de correio aéreo francesa que realizava o serviço aéreo postal entre continentes utilizando os lendários aviões Breguet XIV, remanescentes da Primeira Guerra Mundial e com baixa autonomia de voo. Na América do Sul, a empresa atuava no Uruguai, Argentina, Chile e Brasil, e Saint-Exupéry era o chefe de escritório de Buenos Aires. Como os Breguets XIV não tinham muita autonomia, eles paravam no Campeche, e realmente houve o envolvimento dos moradores com os pilotos, que às vezes passavam alguns dias por aqui. Mas isso o filme não aborda de forma comprometida com a realidade. “Não queria me obrigar a contar a história de forma documental, mas sim lúdica. É uma ficção em cima das passagens de Saint-Exupéry por Florianópolis”, reforça Dassilva.

O roteiro já estava pronto há vários anos, mas para viabilizar a realização do filme, Zé Dassilva promoveu um verdadeiro intercâmbio de talentos e habilidades entre profissionais do Rio de Janeiro (onde vive há mais de 20 anos) e de Santa Catarina (onde nasceu e iniciou a vida profissional). Buscou primeiro a Studio de Ideias, uma das principais produtoras culturais da Capital e especializada em adequar projetos para leis de incentivo. Enquadrado na Lei de Incentivo à Cultura de Florianópolis o projeto envolveu também a catarinense Vinil Filmes, a Diplomata Filmes (do Rio de Janeiro, que reúne o próprio Zé Dassilva, o ator Marcos Veras e o também roteirista Dino Cantelli) e a 4-3-3 Produções (com sede em Florianópolis). “Em relação aos papéis, também buscamos essa mescla com atores locais. O Rodrigo Fagundes faz o Saint-Exupéry e o Marcos Veras é Celestino. Daqui, tem entre outros o Gringo Starr, o Chico Caprario e o Marcelo Perna, que apesar de atuar no Circo de Soleil, estava em Floripa por causa da pandemia. E ainda teve o cubano Raúl Tamayo Estrada como diretor de fotografia. Aí fechou bem!”, diz.

Em poucas palavras…
A história é encantadora: Celestino é um morador do Campeche que se destaca dos demais porque não pesca. Ele desenha o tempo todo – o que é motivo de chacota para os outros -, é apaixonado por Rosa e a pede em namoro. Ela, sonhadora, diz que quer mesmo é dar uma volta de avião. Para tentar realizar o desejo da amada, Celestino manda uma carta desenhada para quem poderia ajudá-lo, e Saint_Exupéry pousa na praia para uma escala.
Parecia que tudo ia dar certo, só que Rosa desaparece. Os dois, então, vão atrás dela e passam por vários lugares – até na Ilha do Campeche -, encontrando pelo caminho personagens e situações que remetem ao livro “O Pequeno Príncipe”.
Produção e filmagens
Inscrito na Lei de Incentivo à Cultura de Florianópolis, “Dás um Banho, Zé Perri!” foi patrocinado pela Fundação Cultural Franklin Cascaes e Prefeitura Municipal de Florianópolis, e recebeu apoio cultural do Floripa Airport (onde, aliás, aconteceu a pré-estreia, em 10 de dezembro de 2021).

Segundo Dassilva, além da novidade de estrear em um novo gênero de roteiro, a maior dificuldade enfrentada foi a construção da réplica do Breguet XIV. “Foi a primeira vez que foi construído um avião cenográfico no Brasil. E ficou perfeito, graças ao trabalho e garra do artista Michel Martins – que produz carros alegóricos no Festival de Parintins, no Amazonas -, dos produtores Arturo Valle Jr. e Marina Tavares, além da diretora de arte Loli Menezes. Na praia, teve gente que achou que o avião tinha realmente pousado na areia. Chegavam para ver de perto, tocar..”, relembra o diretor.
As filmagens aconteceram em setembro de 2021 – em plena pandemia e seguindo todos os protocolos obrigatórios de segurança – e duraram seis dias, com locações na praia e Ilha do Campeche, Ribeirão da Ilha e na região central da Capital, incluindo o Palácio Cruz e Sousa. Zé Dassilva lembra que foram dias de ‘sorte’, com muita luz, calor e nenhuma chuva. “O filme tem muitas cenas externas, e o tempo bom ajudou muito. No dia em que filmamos na praia tinha muita gente aproveitando o sol, e naturalmente as pessoas se espantavam com a movimentação na areia. Alguns moradores locais ficavam até emocionados e vinham comentar que o pai, avô… alguém da família tinha convivido com os pilotos… foi uma interação muito legal”, comenta.

Estreia nota 10
O curta é a primeira experiência de Zé Dassilva dirigindo ficção, mas fica registrado que foi uma estreia e tanto: em 26 festivais no exterior, o filme recebeu 15 prêmios, vencendo, inclusive como Melhor Curta de Ficção e Melhor Ator (Marcos Veras) no Toronto Indie Shorts (Canadá), e integrou a seleção oficial do New York Brazilian Film Festival.
E além de todos os festivais e pre miações (confira quadro na página xx), foram significativas a receptividade do público na Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis (estreia nacional do curta) e a apresentação no Rancho dos Pescadores, no Campeche.
O que esperar?
Com a palavra, o roteirista/diretor: “Essa foi uma experiência que me fez ficar motivado para fazer um longa.Apesar de morar há muitos anos no Rio, sempre me mantive presente em Santa Catarina e gosto de dar valor às histórias de nosso Estado. Eu escrevi, por exemplo, o livro que conta a história do Metropol, time de futebol de Criciúma, que merece um filme. Meu projeto atual é um longa inspirado no livro “Todo caminho é sagrado”, do escritor e filósofo catarinense Beto Colombo, que conta a história de um grupo que sai daqui para percorrer o caminho de Santiago, na Espanha. Veto é um profundo conhecedor dessa lendária rota de peregrinaçãoe acabamos de fazer uma viagem por lá, já estudando as locações para o filme que planejamos rodar ano que vem”, contou.
