SURFLAND – O TROCO

textos LUÍS ROBERTO FORMIGA E NARBAL CORRÊA
fotos   MARCO CEZAR, SURFLAND e ARTHUR LUMERTZ

Desde a primeira vez em que uma prancha grande e pesada deslizou pelas ondas comigo em cima, eu soube que isso era aquilo que eu queria.

Isso aconteceu há mais de 50 anos, e desde estão, surfar virou uma obsessão… o cheiro da parafina de coco, o estilo de vida do surfista, as gatinhas de calça cocota ultrassexy foram muito marcantes para os anos 70, uma época em que os esportes radicais ou alternativos estavam começando a surgir no País.

De lá pra cá, uma busca incessante pela onda perfeita foi o meu objetivo e o de milhões de pessoas por todo mundo. Pegar um tubo, então, mais ainda! Era uma missão em busca da felicidade e superação pessoal, levando, talvez, aos segundos mais lúdicos que um esportista poderia desfrutar.

Parece fácil, mas só quem se dedica a esse esporte sabe o quão difícil, trabalhoso e demorado é! A começar pelas viagens atrás das ondas; depois, atravessar a arrebentação e conseguir ‘’ pegar a onda’’. E se não bastasse, ainda tem o ‘’medo do caldo’’, de capotar submerso e desorientado na espuma como se estivesse dentro de uma máquina de lavar roupas. Em determinadas situações, a hostilidade de surfistas que se intitulam ‘’locais’’ também é um ponto desanimador, principalmente para quem inicia no surf.

Sem dúvida, surfar e aproveitar de verdade esse esporte fantástico sempre foi uma tarefa  desafiadora.


Cromoterapia azul turquesa

A grande novidade nos esportes de prancha no Brasil é a piscina de ondas.  Ao se chegar à Surfland, logo na entrada se percebe uma infraestrutura surpreendente, que deixa qualquer um de queixo caído pela beleza da arquitetura, organização e, principalmente, pelo tamanho das duas piscinas que quebram as ondas para esquerda e para a direita.

No volume total, fala-se em mais de 40 piscinas olímpicas de água muito bem tratada, de um azul impecável. Nunca na vida vi tamanha beleza em tanto azul turquesa. A pupila se dilata como se estivéssemos vendo um baú de tesouros. Isso eu preciso enfatizar.

Dito isso, quero destacar ainda que hoje em dia chegar no mar e ver ondas perfeitas sem um grande número de surfistas em disputa fervorosa é coisa difícil.

Nas experiencias que tive na Surfland, esse cenário não existiu. Pelo contrário: a organização e o respeito tornam a prática muito mais divertida e relaxante. Forma-se uma fila, cada um tem sua vez – o que torna o ambiente muito amistoso e colaborativo – e de quebra, na remada após a onda surfada, dá tempo de curtir as ondas dos parceiros de sessão, aplaudir e incentivá-los.

Como as ondas são de todos os níveis, desde o iniciante ao expert,a evolução é muito rápida. Provavelmente, para quem tem o sonho de aprender a surfar – ou mais, de pegar o primeiro tubo – essa é a melhor opção, nem que para isso tenha que investir na máquina de sorrisos. Sim, porque todos que saem das sessões de surf deixam a água felizes e sorridentes.

Parece até efeito o efeito de “blue rays” na cromoterapia – a cor que trabalha com sentimentos e emoções, e transmite paz, tranquilidade e bem-estar.

“Depois de 50 anos de experiência, surfar uma onda forte perfeita e pegar um tubo à noite, só mesmo numa piscina de ondas como na Surfland”. Palavra de Formiga! (Foto: Arthur Zimerman)

O “Troco”

Como esta história começou

O telefone toca e eu não percebo. Olho nas mensagens de WhatsApp e leio: “Narbal, me liga”. Em seguida: “Urgente!”. Retornei a ligação do amigo Marco Cezar, que estava sugerindo pauta para a edição de numero 90 da revista Mural.

Como na edição de número 88 eu e Formiga participamos de uma matéria mostrando os “primeiros passos” – ou “nados” – do Formiga praticando pescasub sob minha orientação, havia chegado a hora de eu me aventurar no surf com treinamento e supervisão do Formiga. Poucos minutos após o chamado do Marco Cezar, recebo a ligação do maior multiesportista brasileiro, Luis Roberto Formiga, botando pilha para eu aceitar o desafio.

Passou um filme muito antigo em minha cabeça. Ano de 1975 ou 1976, o surf estava começando a se popularizar por aqui. Um dia fui até a casa de meu tio Toninho Pirajá, e vi na garagem uma prancha de surf de madeira, com aproximadamente 2.5 m. Era uma peça muito bem feita em compensado naval com uma quilha de uns 40 cm. Tinha a inscrição ALOHA IV próximo ao bico arredondado. A prancha foi trazida do Rio de Janeiro pelo Mario Germano Pirajá Martins, irmão de meu tio e coincidentemente um dos meus mestres na pescasub. Peguei a prancha emprestada e fui com os amigos Osny (Mico) Caetano da Silva Junior e Helio Anjos Ortiz Junior para uma jornada de surf em Balneário Camboriú. Eu acho que tínhamos duas pranchas para nós três. A prancha que levei tinha um problema: ela só flutuava com alguém em cima quando a onda a arrastava. Não dava para subir e esperar a onda chegar. Para dar certo surfar com aquela “tábua de passar roupa” gigante, era preciso que um dos três subisse na prancha e outro segurasse e empurrasse quando a onda chegasse. Só assim para ter o impulso necessário.

Depois desse primeiro dia, fui poucas vezes ao encontro das ondas. Hoje, refletindo, acredito que o esporte não me encantou naquela época. Acho que o equipamento que eu tinha disponível era muito trabalhoso e eu já praticava caça submarina (como era conhecida a pescasub) e skate. Meus amigos seguiram surfando por mais alguns anos.

Outro fato que me desestimulou foi de não ter apoio em casa. O surf era mal-visto por pais conservadores, que relacionavam o esporte a drogas… Depois de desistir de ser surfista, larguei o skate. Olhando para trás, acho que tomei a decisão certa. O mundo perdeu um surfista e skatista, mas ganhou um pescador submarino vitorioso…

Voltando à ligação do Formiga…

Ele disse que iríamos até Garopaba, na Surfland Brasil, que é uma piscina com ondas artificiais produzidas por meio de tecnologia de ponta. Confesso que a princípio não me entusiasmei porque estou fora de forma, com 30 quilos acima do meu peso ideal e uma crise de coluna que se arrastava por 3 semanas. Eu sabia que teria dificuldade para ficar em pé, porque todo movimento que estava fazendo me doía. Considerando que sou ariano com ascendente em Áries, não sei dizer não e aceitei! Cinco dias depois, estávamos na Surfland.

“Eu não fazia ideia do que encontraria e quando alcancei a piscina não conseguia acreditar.

Me deparei com uma estrutura deslumbrante. O local vai muito além duas piscinas extraordinárias de ondas artificiais”.

E chegou a hora da verdade

O desafio estava programado para 2 sessões de 50 minutos cada. Formiga escolheu o nível de surf e onda indicada. Fizemos o check-in para a primeira sessão e assisti ao briefing obrigatório. Na primeira sessão, o Formiga entrou na água comigo. Ele escolheu uma prancha grande, quase do tamanho da ALOHA IV, só que a escolhida foi uma softboard que flutua muito e é macia. Formiga me deu os toques para que eu conseguisse, pelo menos, ficar em pé.

Entramos na piscina e parecia que estava indo mergulhar. Água azul, a prancha me levando por meio de uma corrente artificial até o “pico” das ondas.

Na sessão havia sete surfistas em fila indiana, aguardando sua vez de pegar uma onda exclusiva. No ponto de espera, dois jovens funcionários da Surfland. O primeiro – nessa sessão uma menina –  fica sentado em uma prancha, organizando a fila e de prontidão para atender surfistas com menos experiência. O segundo, era um rapaz que dava impulso aos surfistas de primeira viagem, ajudando a alcançarem a velocidade necessária para entrar na onda. Era o meu caso.

O engraçado são as coincidências. Há 45 anos, eu estava surfando com uma prancha gigantesca auxiliado por uma pessoa para dropar uma onda. Nessa minha segunda estreia, também! Com as instruções do Formiga e a atenção que recebi dos dois funcionários, confesso que saí satisfeito ao fim da sessão. Nas primeiras ondas tive dificuldade por conta de uma dor que me incomodava ao tentar ficar em pé – o que me fez surfar várias ondas de joelho. Minha melhor onda foi a última dessa sessão. Foi a que consegui ficar em pé e dominar a prancha por alguns segundos.

Ao fim da sessão estava exausto e lembrei na hora do primeiro dia em que levei o Formiga para pescar… mar muito revolto e ele saiu esgotado da água.

Dessa vez, ele me deu o troco (rs rs)

Encerrada a minha sessão, teve início a sessão do Formiga, com ondas maiores. Fui assistir junto ao Marco Cezar, que registrava tudo com maestria. Como se diz na gíria do surf… Formiga quebrou! Destruiu as ondas!! Fez manobras radicais, entubou e mostrou porque é um monstro em matéria de esportes radicais.

Quando terminou a segunda sessão do Formiga, senti uma coisa estranha. Minha dor na coluna tinha passado. Eu estava há pelo menos 20 dias sofrendo, sendo que alguns desses dias passei de cama. Agora some como mágica? Minha segunda sessão iniciaria em alguns momentos, então, sem o Formiga na água.

Ele se posicionou em uma mureta junto à piscina e ficava me passando informações para melhorar meu desempenho. Como eu já estava cansado da primeira sessão, achei que meu rendimento foi pior. Formiga discordou. Assim como disse o Chef Auguste Gusteau, da clássica animação ‘Ratatouille’, “qualquer um pode cozinhar”, digo que com a Surfland Brasil, qualquer um pode surfar.

Além da estrutura, devo destacar a equipe altamente treinada e atenciosa do parque. Um lugar superseguro, que conta com apoio na água e fora dela. Instrutores, monitores, salva-vidas, fotógrafos, atendentes, seguranças e muitos mais… estão todos de parabéns!

Fechando o dia com chave de ouro

O dia foi tão perfeito que só  quando terminou a minha sessão e o trabalho de captura de imagens estava encerrado, caiu uma chuva torrencial.

Para encerrar o dia na Surfland, avistei um famoso surfista brasileiro. Conheci e conversei rapidamente Ricardo Bocão há quase 20 anos no saguão de um aeroporto. Na época eu estávamos iniciando o PAS – Projeto de Arqueologia Subaquática da Praia dos Ingleses, e mostrei um vídeo no meu notebook para ele. Ele gostou muito. O Formiga nos reapresentou – ele e Bocão foram contemporâneos na famosa equipe Gledson. Formiga no skate e Bocão no surf. Foi um papo muito legal, pois estes dois são diferenciados e carregam a característica dos grandes campeões: humildade.

Chegamos em Florianópolis às 18 horas e fomos jantar. Durante o jantar – obviamente – o assunto não foi outro senão o dia na Surfland. Quando eu falei que era a primeira vez que não sentia dor nos últimos 20 dias, Marco Cezar olhou para mim e perguntou: “Não visse o que estava escrito em uma camiseta lá… SURF CURA”.  Pois curou…

Formiga me ofereceu uma prancha para eu continuar surfando, e considerando que a Vic sai regularmente de madrugada para surfar, estou avaliando a possibilidade de aceitar a oferta do amigo para ir ao mar com minha filha.

Agradeço aos amigos Marco Cezar e Formiga, e fico no aguardo da próxima aventura…

Embora o surf seja o foco desta matéria escrita a quatro mãos, nem só deste esporte vive a Surfland.

Há muito o que conhecer – e aproveitar – por lá

Além de um grande empreendimento imobiliário, trata-se  de um parque onde, além de surfar, pode-se andar em uma pista de skate projetada pelo campeão André Barros, jogar tênis, beach tênis e muito mais.

No surf, são nove níveis de dificuldade e tamanho de ondas, indo do “Iniciante” (para qualquer pessoa a partir de cinco anos que queira aprender a surfar e se divertir com total segurança) ao “The Beast” (que  apresenta o tubo mais intenso do menu).

Para saber mais, aponte seu celular para o QR code e visite o site do empreendimento.

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