O Parque Ecológico do Córrego Grande já viu de tudo: no início, plantava-se ali basicamente capim-limão e capim-gordura para alimentar gado; depois, vegetação exótica para reflorestamento. Atualmente, uma grande variedade de plantas nativas e uma fauna diversificada expõem a biodiversidade local.
texto LU ZUÊ
fotos CARLOS BORTOLOTTI e AYRTON CRUZ
No início do século XX, quando a região nada tinha a ver com o pulsante e populoso bairro do Córrego Grande, a extensa área que hoje abriga um parque ecológico era uma grande chácara para produção de leite, onde o rebanho se esbaldava no pasto, comendo capim-limão e capim-gordura. Adquirido pelo Governo Federal nos anos de 1940, o terreno se transformou uma reserva florestal do extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), onde eram plantados pinus e eucalipto para reflorestamento.
O local nada tinha de atraente para a crescente comunidade que o cercava, mas foi justamente graças à mobilização dessa comunidade, que o Parque Ecológico Municipal Prof. Davi Ferreira Lima – nome oficial do Parque Ecológico do Córrego Grande – tornou-se o que é hoje: um paraíso para animais como os gambás, jacarés-do-papo amarelo, lagartos, martins-pescador, biguás, papagaios, tucanos, saguis, jabutis, lindas e coloridas borboletas e para muitos insetos. E para a comunidade, é claro!

A história do Parque como espaço da comunidade não teve um início feliz. Em agosto de 1994, graças a uma parceirinha entre o IBAMA, a prefeitura de Florianópolis e a Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), o espaço foi aberto à comunidade, e já no mês seguinte, fortes ventos provocaram a queda de um eucalipto e a morte de um homem e seu filho pequeno. O acidente provocou a interdição do local para investigações e adequações da estrutura.
Após reformas e instalação de estrutura e equipamentos de lazer, desenvolvidos paralelamente à recuperação da vegetação nativa, o Parque Ecológico foi reaberto à visitação em dezembro de 2001, quando a Prefeitura Municipal recebeu do Governo Federal a cessão temporária da área. Foram plantadas mais de 25 mil mudas de espécies nativas, e por meio de um projeto de educação ambiental desenvolvido pela administração municipal da época, o parque se tornou um distribuidor de mudas para garantir a proteção da biodiversidade local. Dentre a flora nativa local pode-se observar alguns exemplares como o Pau-Brasil, Garapuvu, Imbaúva, Palmiteiro, Araribá Amarelo, Paineira entre muitas outras.

Espaço conquistou o coração das pessoas
Em uma cidade que não possui muitos parques como esse, com vasta área verde e fácil acesso à comunidade, não demorou muito para que o Parque caísse no gosto popular e conquistasse o coração do público. Nos últimos anos, com o crescimento acelerado e a diminuição dos espaços adequados para o contato com a natureza, os moradores de Florianópolis tem descoberto, resgatado e valorizado esse convívio.

Fato é que, em tempos normais, o Parque recebe um grande número de visitantes, que passeiam pelas sua trilhas (são três!), observam a fauna e a flora, e confirmam o apelo ecológico do espaço.
Além da estrutura de lazer, o Parque abriga projetos ambientais que viabilizam visitas agendadas e guiadas por monitores, oficinas de papietagem, de papel artesanal, produção de mudas e compostagem, além de produção de sabão com óleo de cozinha. Aliás, desde o início da pandemia, a coleta de óleo usado não foi interrompida.
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) também atuam no espaço, por meio do “Projeto de Insetos” do local, implantado pelo setor de biologia da UFSC, e “A Hora do Conto”, do segmento de Pedagogia da Udesc, que estreitam a relação das instituições com a comunidade.

Novo capítulo da história
Este ano, uma nova mobilização da sociedade ajudou a escrever um novo capítulo da história do Parque Ecológico do Córrego Grande. Administração municipal, políticos de diferentes esferas, entidades públicas e privadas se uniram à população para garantir que o parque permanecesse público.
A movimentação reuniu mais de 50 mil assinaturas em um documento que se contrapunha ao anúncio do Governo Federal de vender inúmeras áreas em todo o País, consideradas pelo Ibama como desnecessárias às suas atividades institucionais. Entre elas estava o nosso Parque.

A #oparqueénosso viralizou nas redes sociais e após a mobilização local, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou a parlamentares catarinenses do Congresso Nacional que a área não seria alienada.
Enfim, em junho, o próprio ministro esteve na Capital para, em uma solenidade no ambiente do Parque, e assinou a renovação da cessão da área para o município pelo período de cinco anos e assumiu o compromisso de cessão definitiva, o que acontece após a elaboração e aprovação de um Projeto de Lei Federal.
Foi uma vitória da comunidade, que encampou uma batalha pelo meio ambiente da Capital.
Alguém tem dúvidas de que o Parque é nosso?


SAIBA MAIS
- O Parque Ecológico do Córrego Grande abrange uma área de cerca de 21 hectares;
- É um ponto de visitação para contemplar a natureza e uma opção de lazer e atividades físicas;
- Dentro do parque existem dois lagos, três trilhas (Palmiteiro, Pau-Jacaré e Garapuvu) e uma pista de caminhada de 1,1 km;
- Também há um parque infantil, uma academia de ginástica ao ar livre e duas quadras de vôlei de areia.
- Há um estacionamento com apenas 20 vagas, destinado preferencialmente aos portadores de necessidades especiais;
- Entre os projetos de educação ambiental desenvolvidos no Parque está o Família Casca, que compreende a entrega voluntaria de resíduos orgânicos domésticos, que são encaminhados para um pátio de compostagem. Lá, esses resíduos são tratados e transformados em composto orgânico, que é cedido às famílias. Hoje, são cerca de 300 famílias cadastradas.
- Entre as principais árvores encontradas no Parque estão o Garapuvu, o Ipê Amarelo e as Palmeiras Jussara. Já os animais mais vistos são as Saracuras, lagartos, canários, patos e o Jacaré-de-Papo-Amarelo e saguis.
- O acesso é gratuito, das 7h às 18h, e a entrada fica na João Pio Duarte Silva, no Córrego Grande.
