Narbal – Um manezinho na Antártida

Expedição no Blue Dream atravessa Patagônia chilena e alcança o último continente descoberto pelo homem

TEXTO OLAVAO MORAES – FOTOS NARBAL CORRÊA E ANTÔNIO HUSADEL

REVISTA N.78

A dica foi do navegador Amyr Klink. E, seis anos depois, a Expedição do Blue Dream III à Antártida virou realidade. No barco de 79 pés, um manezinho a bordo. O chef e mergulhador Narbal Corrêa embarcou na aventura a convite do amigo empresário Luís Ermírio de Moraes, proprietário da embarcacão. Foram 24 dias, divididos em duas fases: Patagônia chilena e o desafiador percurso até o último continente descoberto pelo homem, no início do século 19.

Em 2013, na primeira viagem do Blue Dream III à Patagônia (chilena e argentina), Amyr Klink recebeu a tripulação no aeroporto de Ushuaia, na Argentina. Empreendedor de grandes expedições marítimas, o navegador foi o primeiro a atravessar o Atlântico Sul a remo e a navegar em volta da Antártica. Klink é amigo do guia Fábio Tozzi e do capitão Zé Fernandes, integrante de expedições com o velejador.

“Quando conheceu o barco, Amyr Klink fez uma observação. Disse que o Blue Dream tinha que ir para a Antártida”, recorda Narbal. No início do ano, o projeto de navegar ao inóspito continente saiu do papel.

Santuário de espécies

A expedição, de 24 dias, foi dividida em duas etapas: Patagônia chilena e Antártida. E nesse paraíso no gelo, destaque para montanhas, geleiras e lagos, com fauna própria. Santuário de muitas espécies, baleias, pinguins, leões marinhos, focas, lobos, caranguejos e diversidade de aves pontuam o serpentear dos caminhos entre canais e glaciares.

Show da natureza selvagem

No remoto extremo sul do planeta, a natureza exibe a face selvagem, agreste, e, por vezes, impiedosa na luta pela sobrevivência. Um dos momentos que mais chamou a atenção de Narbal, foi registrado em imagens: a foca comendo o pássaro cormorão. Também houve momentos de encanto e contemplação, como a “marcha dos pinguins”, o “banquete das baleias”, e a observação de orcas e jubartes, além dos leões marinhos na Patagônia.

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500 anos da viagem de Magalhães

Punta Arenas prepara a comemoração dos 500 anos da viagem de volta ao mundo. A primeira circum-navegação ao globo, realizada por Fernão de Magalhães, completa meio século no ano que vem. Em 21 de outubro de 1520, o navegador português descobriu o estreito, que leva ao pacífico.

“Após enfrentar fortes tempestades no Estreito que hoje leva seu nome, avistaram mar aberto do outro lado do trajeto. E assim escreveu o narrador da expedição, Pigafetta: Avistamos um mar calmo e tranquilo, e demos o nome de Pacífico”, descreve o fotógrafo Antônio Husadel. 

PUNTA ARENAS

Punta Arenas, cidade portuária mais ao sul do Chile. É a capital da região de Magalhães e Antártida Chilena. Antes da abertura do canal do Panamá, era pelo Estreito de Magalhães que os navios passavam quando queriam cruzar os Oceanos Pacífico e Atlântico. De Punta Arenas, parte a maioria dos navios rumo à Antártida, continente gélido, atrás de mais aventuras. O Estreito tem o nome em homenagem à Fernão de Magalhães, português que, em tentativa de contornar a América, descobriu esse canal. 

CIRCUM-NAVEGAÇÃO

Os 500 anos da primeira volta ao mundo

A viagem, a bordo da nau Victoria, começou em 20 de setembro de 1519, em Sanlúcar de Barrameda (sul de Espanha), e terminou em 6 de setembro de 1522, no mesmo local. No dia 21 de outubro de 1520 o navegador português Fernão de Magalhães descobriu o caminho que liga os oceanos Atlântico e Pacífico no extremo sul da América do Sul. Financiado pela coroa espanhola, Magalhães partiu de Servilha, à frente de uma expedição de cinco navios, no dia 20 de setembro de 1519, para uma viagem que deveria se a primeira circum-navegação ao globo. 

Após três meses navegando no mar eles avistaram um tempestuoso canal que denominaram “De Todos os Santos”. Na realidade eles estavam diante do que seria mais tarde chamado “Estreito de Magalhães”, um perigoso trecho interoceânico que era procurado desde a chegada dos europeus à América em 1492. 

Uma odisseia

O mar e as marés transformaram a travessia deste trecho em uma odisseia. Já no oceano Pacífico, a expedição ainda teve que superar problemas como a fome e as doenças. Fernão de Magalhães, contudo, não viu seu sonho de cruzar o globo ser realizado. No dia 27 de abril de 1521, ele foi morto na batalha em Cebu, nas Filipinas, aos 41 anos. A expedição seguiu e, posteriormente, foi chefiada por Juan Sebastián Elcano até o regresso à Europa. Em 6 de setembro de 1522, chegou a Sevilha a embarcação Vitória, a única que restou da esquadra original. Estavam a bordo 18 tripulantes sob comando de Juan Sebastian Elcano. Eles foram os únicos que sobreviveram de uma expedição que, inicialmente, tinha 234 homens. O estreito de Magalhães é uma passagem navegável de aproximadamente 600 quilômetros . Ele está entre o continente ao norte e a Terra do Fogo e o Cabo Horn ao sul.

A aventura, de 6 a 29 de janeiro

PRIMEIRA ETAPA, A PATAGÔNIA CHILENA

6 a 11 de janeiro – de Punta Arenas a Porto Willians, no Chile.

SEGUNDA ETAPA, EXPEDIÇÃO À ANTÁRTICA

12 de janeiro – Puerto Willians, no Chile, a espera da janela de tempo para cruzar o Drake e suas temíveis águas revoltas 

13 a 28 de janeiro – de Puerto Willians a Ilha Rei George, na Antártica. 

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A Patagônia Chilena

Relato do fotógrafo Antônio Husadel, com a cronologia da aventura 

Saída de Punta Arenas

Partimos de Punta Arenas, cidade chilena e importante porto comercial, nas primeiras horas do dia 6 de janeiro. Punta Arenas está localizada em frente ao Estreito de Magalhães. Foi por aqui que, em 1520, o português Fernão de Magalhães, comandando esquadra de navios espanhóis, navegou em busca de uma passagem para as ilhas das especiarias. 

Após enfrentar fortes tempestades no Estreito que hoje leva seu nome, avistaram mar aberto do outro lado do trajeto. E assim escreveu o narrador da expedição, Pigafetta: “Avistamos um mar calmo e tranquilo, e demos o nome de Pacífico”. O Estreito de Magalhães e os canais chilenos podem oferecer fortes ventos a navegação, mas nossa viagem transcorreu muito bem, até a chegada em Puerto Willians. 

Fiordes e lugares remotos

No caminho, com o conhecimento que poucos têm destes lugares remotos no extremo sul do Chile, Igor Belly, nosso guia nos conduziu a fiordes aonde poucos passam. Belly é referência em conhecimento da região, com mais de 30 expedições realizadas a Antártida. Alguns sem nome como o “Fiord Sin Nombre”, e nossa carta náutica seguia pontilhada de lugares espetaculares.

Visitamos ainda, entre os dias 6 e 9, alguns fiordes com belas geleiras, como Seno Garibaldi e Fiord Aux Moines. Todos em pequenas entradas dos canais, aonde a navegação é extremamente cuidadosa. Sempre de olho na profundidade. Fizemos desembarque onde fotografamos uma geleira e tivemos encontro com pequeno felino da Patagônia – o Zorro Colorado.

Dias longos

No dia 7 de janeiro visitamos um dos locais mais bonitos de nossa viagem: Seno Garibaldi, uma enorme geleira. Retornamos para fundear na Ilha Gordon e passar a noite. Nesta época o sol se põe depois das 23 horas, então o dia é longo. No dia seguinte, deixamos a Ilha Gordon e seguimos ao sul em direção à Península Clove. 

A partir daí visitamos uma belíssima região destes canais patagônicas, sempre sob a experiente orientação de nosso guia Igor Belly. Estero Coloanie, Fiord Aux Moines (nomes dados por navegadores franceses que exploraram a região), e ainda uma área remota, batizada de Estero Sin Nombre. Após um dia de explorações, passamos a noite no Fiord Fuque.

No dia 9 de janeiro deixamos o Fiord Fuque, e adentramos no Canal de Beagle. Navegamos no canal de Beagle, e avistamos as luzes de Ushuaia no fim do dia. Passamos nossa última noite antes do desembarque em Puerto Willians, na Caleta Letierre, em território argentino. 

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Na divisa entre Argentina e Chile

O canal de Beagle divide os dois países. Acima Ushuaia e a Ilha da Terra do Fogo, e abaixo, a Ilha Navarino, com suas famosas escarpas de montanhas chamadas de Los Dientes de Navarino, em território Chileno. No dia 11 de janeiro, próximo do meio-dia, o desembarque em Puerto Willians. Fim da minha participação neste expedição, que segue para o continente gelado.

Cidade mais austral do mundo

Puerto Willians é a cidade mais austral do mundo. Lá existe uma base da armada do Chile e o simpático iate clube Micalvi recebe os barcos, maioria veleiros que vão atravessar para a Antártida. Aqui, aguardam a janela de tempo bom para cruzar o Drake e suas temíveis águas revoltas. Saindo de Puerto Willians, se navega ao sul, deixando à direita a Ilha do cano horn. Daí para diante, são de dois a três dias de mar aberto, cruzando o Estreito de Drake até a Antártida. 

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